História da Lata

O século XIX passava por grandes transformações na política, na economia e na própria cultura mundial. O advento de novas ciências, a busca pela sintetização da religiosidade cristã e o crescimento da procura por novas colônias foram algumas das condições em que as populações estavam inseridas.

 

Foi um período marcado pelo grande florescimento da ciência. Quase todas as áreas do conhecimento registraram avanços e mudanças. O próprio estudo em busca de novas estratégias intelectuais tornou-se de domínio público, popularizou-se, o que gerou várias descobertas.

 

Entretanto, nas entrelinhas dessas conquistas, existiam muitos problemas em relação à manutenção da vida dos soldados, principalmente no que se referia à alimentação. Era sabido que os exércitos passavam dias na busca de novos espaços, com condições totalmente precárias e, muitas vezes, desumanas. Fazia parte do perfil do poderio militar da época.

 

Nos conflitos, um nome se destacou: Napoleão Bonaparte. Governante da França entre 1804 e 1814, o imperador colonizou e governou grande parte da Europa central e ocidental, mostrando seus ideários iluministas e poderio bélico.

 

Para se conquistar um novo território, há a necessidade da força e os soldados de Bonaparte estavam cada vez mais fracos devido às más condições dos alimentos transportados. Não existia a conservação e os recipientes que conseguiam transportar os alimentos não aguentavam por muito tempo e estragavam rapidamente. Resultado: muitos morriam de fome ou por escorbuto (falta de vitamina C). O exército comandado por Bonaparte possuía cerca de dez mil soldados e estima-se que de dois a três mil morreram de frio e fome, sem ao menos participar das batalhas. 

 

Vendo que o problema da má alimentação afetaria a sua meta de conquistar o mundo, em 1795, Bonaparte convocou  inventores, pesquisadores, cientistas da época para desenvolver uma solução de embalagem para  preservação dos alimentos por mais tempo. Napoleão, inclusive, pagaria um prêmio de 12 mil francos por tal descoberta. 

 

Grandes mestres iniciaram a procura para atender ao chamado de Napoleão. E foi Nicolas Appert, em 1802, que desenvolveu e apresentou um recipiente inédito para conservação de carnes, legumes e peixes por até um ano. A appertização, como ficou conhecida a técnica, consistia na aplicação do processo térmico a um alimento convenientemente acondicionado em uma embalagem hermética, resistente ao calor, a uma temperatura e a um período de tempo determinados, para atingir a esterilização. Mais de 20 itens foram envasados e processados seguindo a técnica de Appert. Surgia, portanto, o conceito de conservação e preservação da lata de aço.

 

Em 1810, Peter Durant patenteou o recipiente de ferro revestido de estanho, o qual poderia ser appertizado, vendendo a patente no ano seguinte para a empresa da Inglaterra Donkin, Hall & Gamble. 

 

No mesmo ano, oito anos depois da primeira embalagem appertizada, que novos estudos e tecnologias foram aplicados ao invento, substituindo  o sistema appertização  pelo enlatamento, dando muito mais segurança, sabor, qualidade nutricional e facilidade no transporte de alimentos. Surgia, enfim, a lata de aço! 

 

Foi também, em 1810, que Appert publicou seis mil exemplares da primeira edição do livro “A arte de conservar por vários anos todas as substâncias animais e vegetais”,  que detalhava o processo para enlatar mais de 50 tipos de alimentos. Tal obra tomou o mundo.

 

Com as conquistas militares e  as grandes navegações comerciais, vários países conheceram as vantagens e qualidades da nova embalagem – a lata de aço. Para o avanço e todos os progressos, a lata tornava-se fundamental. Aliada ao desenvolvimento de novos processos de envasamento, da preservação integral dos nutrientes e da total segurança para o acondicionamento de produtos, a embalagem de aço percorreu o mundo, fixando-se como parte da cultura das sociedades organizadas.

 

Como são Fabricadas as Latas de Aço

 

O material básico mais usado para alimentos em lata é o aço. O primeiro passo no processo siderúrgico é a produção de ferro fundido. Isto é feito através da mistura de minério de ferro e calcário e seu aquecimento a temperaturas muito elevadas em um alto-forno. Este ferro fundido é alimentado em um recipiente junto com um percentual de sucata de aço (aço reciclado) e outros produtos e, então, oxigênio é soprado para produzir aço. O aço é derramado do recipiente conhecido como "panela" em moldes e resfriado originando as chapas de aço. As chapas são laminadas e transformadas em grandes bobinas de até 25 toneladas. As bobinas laminadas são finamente revestidas com estanho ou cromo, que protegem o aço da oxidação. Este será o aço aplicado para a produção de embalagens. 

 

Existem duas formas de produção de latas de aço, duas ou três peças. A forma tradicional é de três peças. Aqui as bobinas de aço são cortadas em folhas e, na maioria dos casos, são então revestidas com uma camada de verniz para proteger os conteúdos e rotular as embalagens (litografia). Todos os vernizes aplicados são elásticos e aprovados pelos órgãos competentes de saúde - ANVISA, Ministério da Saúde e FDA. Uma máquina de alimentação especial pega individualmente as chapas revestidas com ventosas e as leva a cortadeiras para corte em pequenos pedaços retangulares conhecidos como "blanks" - estes formarão o corpo das latas de 3 peças. Os corpos são formados em forma cilíndrica e são eletronicamente soldados. A parte superior e inferior do cilindro são enroladas. As latas são também "frisadas" com anéis concêntricos em torno do meio da lata para permitir empilhamento quando vazias ou cheias visando resistência. Os frisos também previnem o colapso das latas quando autoclavadas. É então recravado o fundo da lata. Todas as latas são testadas e depois enviadas para o preenchimento das fábricas de produtos. 

 

As latas de aço de 3 peças são encontradas em diversos segmentos como o de milho, ervilha, leite condensado, leite em pó, achocolatados, tomate pelado, tinta, dentre outros.

 

As latas de duas peças são fabricadas incialmente a partir de bobinas alimentadas em uma máquina que forma pequenos copos de aço mecanicamente, esse processo é chamado de repuxo. Aqui o corpo e o fundo da lata são um único pedaço e são estirados para formação da altura desejada. O resultado é um corpo com paredes mais finas que a espessura do aço original. Os topos das latas são então cortados, flangeados e envernizados/rotulados. Assim as latas estão prontas para o envio para as fábricas que preencherão com o conteúdo. 100% das latas são testadas. 

 

As latas de aço de 2 peças são muito usadas para o acondicionamento de sardinha, atum, manteiga, balas, além de bebidas como refrigerante, cervejas e sucos.